Na última semana, o público pelotense teve a oportunidade de assistir ao espetáculo A Falecida, protagonizado pela renomada atriz Camila Morgado. A peça, uma das Tragédias Cariocas de Nelson Rodrigues, foi apresentada no Theatro Guarany e trouxe à tona questões universais como culpa, desejo e hipocrisia, envoltas na icônica ironia e complexidade da obra rodriguiana.
Camila, que interpreta Zulmira, uma mulher tuberculosa obcecada pela ideia de um enterro luxuoso, emocionou a plateia ao dar vida a uma personagem consumida por desilusões e marcada por uma sociedade regida pela falsa moralidade. “É uma peça que, apesar de escrita nos anos 1950, continua extremamente atual. Zulmira busca na morte a redenção que a vida não lhe proporcionou. É uma história sobre as desigualdades e o desejo de transcendência, temas que ainda ecoam em nossa sociedade”, refletiu a atriz.
A montagem, dirigida por Sergio Módena, apresenta uma estética atemporal. Cenários e figurinos criados por André Cortez e Marcelo Olinto entrelaçam épocas, enquanto a trilha sonora de Marcelo H combina o sagrado e o profano, refletindo o dualismo que atormenta a protagonista. “Nelson sempre insere humor em suas tragédias, e isso também está presente em nossa encenação”, explicou Camila.
Um apelo aos teatros de Pelotas
Durante sua passagem pela cidade, Camila Morgado também fez um apelo à preservação dos espaços culturais locais.
“O Theatro Guarany é maravilhoso. Espero que conservem esse espaço, porque nós, atores, precisamos dele. Hoje vivemos muito no mundo digital, mas o teatro oferece algo único: o contato olho no olho”, destacou.
Camila também mencionou o Theatro Sete de Abril, fechado há mais de uma década para reformas. “Estive lá há muito tempo com outra peça e é uma pena que a reforma ainda não tenha terminado. Espero que reabram logo, pois esses lugares são fundamentais para manter viva a cultura teatral”, disse a atriz.