A preservação da memória urbana de Pelotas ganha uma nova aliada: a tecnologia digital. O projeto em desenvolvimento ‘Digitalização 3D e Documentação para Preservação do Patrimônio’, proposto pela conservadora-restauradora Olga Cabral, pretende registrar em detalhes os 35 monumentos das praças tombadas da cidade, criando um acervo técnico e educativo acessível à comunidade.
O projeto é desenvolvido pelo Studio Restaurarte, coordenado por Olga, que é egressa do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da UFPel. A iniciativa surge da necessidade de salvaguardar monumentos da cidade, atualmente em estado lamentável de conservação. Alguns decorrentes da degradação da ação do tempo, outros por conta de atos de vandalismo e furtos. Além disso, existe uma vasta lacuna de documentação e informação das obras.
Como funciona a digitalização 3D
Um dos grandes diferenciais do projeto é o uso de tecnologias de escaneamento tridimensional para registrar os monumentos com máxima precisão. A parceria com a empresa Scan3D possibilita a utilização de equipamentos sofisticados, incluindo escaneamento a laser para monumentos de grande porte e ambientes externos. Para obras menores, como bustos e placas comemorativas, Olga também utiliza softwares gratuitos de digitalização em dispositivos móveis, complementando o refinamento dos modelos com tecnologia profissional.
A escolha do método varia conforme o ambiente, o tamanho da peça e a iluminação. Os registros são feitos, preferencialmente, no fim da tarde, para evitar reflexos que podem gerar falhas nas imagens. Todo o processo é realizado com tripé, garantindo estabilidade e qualidade máxima dos arquivos.
Ações previstas e engajamento comunitário
O projeto vai além da documentação técnica. Serão desenvolvidas ações de educação patrimonial com a comunidade, conectando a população com sua história através da tecnologia. A proposta prevê diversas atividades como caminhadas culturais com escolas, exposições interativas com realidade aumentada, maquetes táteis e holografia, e ainda um curta-metragem documental sobre o processo e a história dos monumentos.
Olga também destaca que o Studio Restaurarte será responsável por elaborar um site de acesso público, onde estarão disponíveis os modelos 3D, fotografias, dados históricos e toda a trajetória dos dois anos de execução do projeto. O primeiro ano será dedicado ao escaneamento e levantamento de dados, e o segundo ao engajamento cultural, com ações educativas e a exposição interativa no Parque Tecnológico.

Por ser um projeto de alta complexidade, a execução exige um investimento significativo, especialmente pela inclusão de tecnologias avançadas de digitalização 3D e recursos de acessibilidade comunicacional, como intérpretes de Libras. Atualmente, a proposta está em fase de captação de recursos, contando com leis de incentivo e buscando parcerias para viabilizar a consolidação das atividades. A iniciativa já possui cooperação institucional da UFPel, além de parcerias com a Secretaria de Cultura, Biblioteca Pública de Pelotas, Parque Tecnológico e outros órgãos.
De acordo com a idealizadora do projeto, as pessoas só preservam o que conhecem. A iniciativa busca preservar e conscientizar, fazer com que as pessoas se apropriem da própria cultura e se sintam pertencentes à própria cidade, através da junção de tecnologia, educação e zelo. “É um presente para a cidade que eu tanto amo desde pequena. Tenho um carinho enorme por Pelotas e pelo nosso patrimônio, farei o que for preciso em prol de sua preservação’’, resume Olga.