Nesta segunda-feira, 2 de dezembro, Pelotas chega aos últimos dias do ano acompanhando um movimento que reacende expectativas antigas: a instalação da caixa cênica do Theatro Sete de Abril está em andamento. A tarefa, iniciada na última semana, marca um avanço visível depois de anos de etapas internas e lentas.
Mas, enquanto o palco ganha forma, permanece a pergunta que atravessa gerações: o quanto ainda falta para o Sete reabrir de verdade? E que cidade se revela quando seu principal teatro permanece fechado há quinze anos?
Linha do tempo recente (2024–2025)
Dezembro de 2024
A então prefeita Paula Mascarenhas transmitiu uma live de dentro do teatro. A restauração estrutural estava concluída. Poltronas e mobiliário dos camarotes estavam em produção. A caixa cênica e a parte elétrica dependiam de licitação. A projeção era finalizar tudo em 2025.
Janeiro de 2025
A nova gestão assumiu e realizou vistoria. O prefeito Fernando Marroni e a secretária de Cultura, Carmen Roig, identificaram problemas no telhado e na instalação elétrica, ajustando expectativas e prazos.
Fevereiro e março de 2025
A prefeitura respondeu à Câmara que o Sete deve chegar a um custo total de 16,6 milhões de reais. A imprensa local marcou os quinze anos de fechamento, ampliando a cobrança pública.
Junho de 2025
Instalação das poltronas da plateia, retirada de parte dos tapumes e início da limpeza do forro. A prefeitura buscava cerca de sete milhões para concluir elétrica, climatização, iluminação e sonorização.
7 de julho de 2025
No aniversário de Pelotas, o teatro abriu temporariamente para estudantes e para a Orquestra Estudantil Municipal. Após a celebração, voltou a ser fechado.
Agosto de 2025
Um ciclone causou danos no telhado. Vizinhos relataram infiltrações. A prefeitura iniciou reparos emergenciais.
Setembro de 2025
O PPCI avançou com luzes de emergência, extintores e sinalização. A segunda etapa da elétrica foi atualizada para licitação. A prefeitura contratou empresa para construir a entrada definitiva de energia.
Novembro de 2025
Começou a instalação da caixa cênica, agora com equipe especializada no palco.
O que já está pronto dentro do teatro
Para quem entra no Sete de Abril hoje, o impacto é imediato. Não se trata mais de um prédio abandonado. O interior está restaurado, limpo e parcialmente equipado.
A plateia recebeu 234 poltronas novas, com adequações para acessibilidade. As 255 cadeiras dos camarotes estão adquiridas. O grande lustre foi restaurado com apoio da UFPel, e três outros estão prontos para recolocação. A limpeza interna abrangeu forros, paredes, esquadrias e áreas de circulação. Os tapumes da fachada foram retirados, deixando as portas novamente visíveis para a praça.
Parte do PPCI também já está instalada, como luminárias de emergência, balizadores e sinalização. É um avanço silencioso, mas fundamental para que o teatro possa funcionar.
A ação simbólica de 7 de julho, com crianças ocupando a plateia pela primeira vez em anos, mostrou algo que nenhum relatório transmite: o Sete está vivo. Só falta deixá-lo funcionar.
O que ainda impede a reabertura plena
A energia elétrica definitiva
A maior pendência é invisível para o público. O teatro ainda opera com instalação provisória. É preciso concluir a segunda etapa da elétrica, repor fiação furtada, instalar a entrada definitiva de energia e ajustar sistemas internos.
Sem isso, não há como operar iluminação cênica, sonorização ou climatização.
O PPCI completo
O teatro avançou no sistema de prevenção contra incêndio, mas falta a etapa final: o funcionamento do reservatório de água sob comando. É esse mecanismo que libera o Corpo de Bombeiros a autorizar a abertura para público.
Equipamentos de palco
Mesmo com a caixa cênica em montagem, ainda será necessário instalar iluminação profissional, sistema de som e climatização.
Reparos finais
O ciclone de agosto deixou danos que precisam ser corrigidos. Há pontos no forro, no telhado e no assoalho do palco que exigem atenção antes da operação contínua.
Quanto custou e quanto falta
A restauração e a requalificação do Sete de Abril já consumiram cerca de dez milhões de reais desde 2012, com recursos do Iphan, do PAC Cidades Históricas, da LIC/CEEE, da Sedac, de emendas parlamentares e contrapartida municipal.
Os cálculos mais recentes apontam para necessidade de seis a sete milhões de reais adicionais, destinados principalmente à elétrica definitiva, climatização, iluminação, sonorização, PPCI completo e reparos finais.
Não é apenas uma questão de orçamento. Ao longo de quatro administrações, faltou continuidade entre etapas, ritmo de execução e estabilidade técnica. É isso que fez a obra avançar lentamente, e não apenas o valor envolvido.
Uma cidade que ficou 15 anos sem seu principal palco
O Sete de Abril está fechado desde 2010. Quinze anos sem o teatro mais importante da cidade significam uma ruptura cultural profunda.
Jovens que hoje têm vinte anos nunca assistiram a um espetáculo ali. Uma geração inteira de artistas cresceu sem pisar no palco mais simbólico de Pelotas. As histórias de quem viu grandes companhias no Sete não se renovaram no imaginário dos mais novos.
A cidade que se apresenta como polo cultural viu seu principal equipamento ficar fechado por tanto tempo que, em muitos bairros, o Sete virou apenas uma foto antiga, não um lugar de experiência.
Reabrir o teatro não devolve o tempo perdido. Mas impede que ele continue se acumulando.
O que esperar daqui para frente
A instalação da caixa cênica marca um grande avanço, mas como vimos, ainda existem etapas decisivas pela frente.
O ponto central, daqui em diante, é garantir clareza sobre esses próximos passos. Um cronograma público e atualizado evitaria novas incertezas e ajudaria a cidade a acompanhar o processo de forma madura.
Outro debate necessário é o que acontece depois da abertura. Para além de um plano de uso, que envolve programação, acesso de grupos locais e ações educativas, é importante implementar uma política sólida de manutenção contínua. Foi justamente a ausência de cuidado regular que, ao longo dos anos, ampliou custos, criou gargalos e prolongou o fechamento. Manter o teatro funcionando exige equipes técnicas, orçamento permanente e uma rotina de conservação que não dependa de emergências.
Nosso Sete está, sim, mais perto de reabrir. O desafio agora é fazer com que essa volta seja sustentável e definitiva, para que o teatro permaneça vivo.


