Por Patrícia Helen | Designer de Moda
Se existe um cruzamento entre moda e identidade cultural, Jessica Porciuncula conseguiu encontrá-lo — literalmente. Em seu mais recente projeto, “Shooting Stars in the Falling Night”, a artista visual transformou uma das esquinas mais icônicas das noites de quarta-feira em Pelotas, no cruzamento da Rua Dom Pedro II com Santa Cruz, em algo para se vestir. E, acredite, não estamos falando apenas de uma peça de roupa, mas de um manifesto visual que celebra o espírito boêmio da cidade.
A fotografia que Jessica tirou da esquina virou camiseta e cartão postal, em uma edição limitada produzida com técnicas de serigrafia em preto e branco. Criadas no ateliê da própria artista, as camisetas rapidamente se esgotaram, com pedidos chegando de várias regiões do Brasil. Mais do que uma simples estampa, a peça encapsula a essência do cotidiano pelotense, que ela descreve como “um fenômeno cultural”.
Quando a Moda encontra a identidade
O trabalho de Jessica vai além da estética. É um exercício profundo de investigação sobre o que realmente define a identidade brasileira. “Eu olho para o cotidiano e busco padrões de conexão para criar novos símbolos. A identidade brasileira não está apenas na bandeira ou no hino; está nas pequenas coisas, nos momentos mais íntimos”, comenta.
E a esquina fotografada é exatamente isso: uma expressão coletiva, um ponto de encontro para todos, mesmo que ninguém se reconheça literalmente na imagem. “É algo tão nosso que qualquer pessoa da cidade poderia estar ali”, reflete. Para Jessica, vestir essa camiseta é carregar consigo um fragmento da cultura de Pelotas, uma declaração sutil de pertencimento.
A camiseta como símbolo de conexão
A moda, neste caso, é mais do que aparência — é narrativa. A camiseta se torna uma extensão do olhar artístico de Jessica sobre a identidade cultural, permitindo que cada pessoa se conecte à peça de uma maneira única. “Não é apenas moda, é uma forma de expressão e, ao mesmo tempo, um jeito de enxergar nossa cultura por uma nova lente”, afirma.
Além disso, o projeto toca em memórias que ultrapassam o presente. Como compartilhou uma pessoa que comprou a camiseta: “Na minha época, a esquina era outra”. Isso prova que as esquinas podem mudar, mas o espírito boêmio e universitário de Pelotas continua vivo, ressoando com diferentes gerações.
O novo luxo: o Cotidiano
Jessica Porciuncula nos lembra que, na moda, o luxo não precisa estar nas marcas, mas nas histórias que contamos ao vestir algo. No caso dessas camisetas, vestir é também viver e celebrar a Pelotas que pulsa nas ruas, esquinas e encontros casuais que definem o coração cultural da cidade. Para quem conseguiu adquirir uma peça dessa edição, que sorte: você não está apenas vestindo arte; está carregando uma parte da história viva de Pelotas.
Sobre a artista
Jessica Porciúncula (1992) é natural de São Luiz Gonzaga/RS, e atualmente reside em Pelotas. Reconhecida por seu trabalho que explora as relações entre identidade, território, corpo e natureza, Jessica utiliza múltiplas linguagens artísticas, como autorretratos, performances, audiovisuais, objetos e pinturas, para criar reflexões poéticas e críticas.
É professora de Fotografia em Artes Visuais na UFPel e doutoranda, com mestrado e graduação em Artes Visuais da mesma universidade. Sua pesquisa explora expressões visuais e simbólicas, manipulando símbolos nacionais para reinterpretações de identidade e pertencimento cultural.
Fica de olho!
Jessica, em parceria com a rapper BART, trará em breve novas criações, relacionando arte, cultura e comunicação com moda e propósito, para a marca autoral NOVIP.