Pequeno Inventário de Plateias convida pelotenses a compartilharem histórias vividas em antigas salas de cinema e teatro da cidade. Relatos inspirarão obras de arte para exposição sobre memória afetiva e patrimônio cultural.
Pelotas já foi um dos principais polos culturais do Brasil. Entre as décadas de 1910 e 1960, a cidade contava com mais de 30 salas de exibição – entre cinemas de calçada, cine teatros e palcos consagrados, como o Theatro Sete de Abril e o Teatro Guarany. A intensa vida cultural atravessava bairros e classes sociais, marcando gerações com estreias, matinês, bailes, óperas e sessões memoráveis.
Mais de meio século depois, a maior parte dessas salas foi desativada. Algumas viraram estacionamento, outras comércios ou prédios abandonados. Mas a memória permanece viva em quem as frequentou. Com o desejo de ouvir essas pessoas e reconectar Pelotas à sua própria história, nasce o projeto Pequeno Inventário de Plateias.
A iniciativa irá recolher relatos de moradores que vivenciaram momentos marcantes nesses espaços. Dez histórias serão selecionadas e transformadas em obras de arte por artistas locais. A exposição será inaugurada em 8 de agosto na Secretaria Municipal de Cultura.
A memória como território
A proposta é unir memória afetiva, arte e história oral. O projeto se divide entre uma investigação documental – com levantamento de dados históricos, arquitetônicos e jornalísticos – e uma escuta sensível de frequentadores, trabalhadores e espectadores que guardam lembranças desses lugares.
“Queremos resgatar a história oral e a memória afetiva de quem viveu e habitou esses espaços, e compreender como os cineteatros mobilizavam a sociedade e o espaço urbano”, explica a curadora Tainah Dadda.
Gaúcha de Porto Alegre, Tainah se conectou com a cena cultural pelotense entre 2015 e 2019, por meio de parcerias com o artista visual Patrick Tedesco e o músico Luciano Mello. Foi em Pelotas que conheceu o pesquisador Renato Cabral, com quem idealizou o projeto durante a pandemia, já vivendo em Portugal. O ponto de partida foi um trabalho acadêmico sobre projeções em fachadas de antigos cinemas – uma ideia que se desdobrou no Pequeno Inventário.
Participação da comunidade
A convocatória para os relatos está aberta até 27 de abril no site www.inventariodeplateias.com.br. Em seguida, entre 25 de maio e 25 de junho, será a vez dos artistas visuais se inscreverem para produzir obras inspiradas nas memórias coletadas.
Além da exposição, o projeto prevê a criação de um mapa urbano acessível com os espaços mapeados e os dez pontos de memória destacados com QR Codes fixados pela cidade.
“Não se trata apenas de um resgate histórico, mas de um gesto afetivo, que busca devolver à cidade um pedaço de sua alma cultural”, resume Tainah.
O Pequeno Inventário de Plateias é realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar n. 195/2022).